segunda-feira, 20 de setembro de 2010

(AULA) Jorge Lemann, novo rei do hambúrguer podia ter sido pobretão

Jorge Lemann, novo rei do hambúrguer que podia ser 'pobretão'
2010-09-20 10:40:36.230 GMT


Por Fabiola Moura
    20 de setembro (Bloomberg) -- Jorge Paulo Lemann perdeu seu
primeiro emprego, como colunista do setor financeiro no Jornal
do Brasil, após se formar em economia na Universidade de
Harvard, em 1961. Tempos depois, a corretora que fundou quase
quebrou numa virada abrupta do mercado brasileiro.
    "Logo depois ele desembestou numa carreira extraordinária",
disse Alberto Dines, 78, então editor-chefe do jornal com sede
no Rio de Janeiro. "Se ele tivesse continuado jornalista, ia ser
um pobretão."
    Em três décadas de negócios, Lemann, 71, orquestrou a
aquisição da Anheuser-Busch Cos., fundou uma corretora que se
transformou no maior banco de investimentos do País e acumulou
um patrimônio de US$ 11,5 bilhões (R$ 19,8 bilhões), tornando-se
o segundo brasileiro mais rico, depois do dono do EBX Group Co
Ltd., Eike Batista, de acordo com a revista Forbes. Sua última
transação foi a compra do Burger King Holdings Inc. por US$ 3,3
bilhões, a maior aquisição de uma rede de restaurantes em pelo
menos uma década.
    O homem por trás da aquisição da segunda maior rede de
lanchonetes dos Estados Unidos já foi campeão de tênis várias
vezes e fundou seu próprio banco de investimentos aos 32 anos.
Lemann, conhecido por raramente falar com a imprensa, não quis
ser entrevistado para esta matéria, segundo sua assessoria de
imprensa externa.
    "Pensar pequeno e pensar grande dá o mesmo trabalho. Mas
pensar grande te liberta dos detalhes insignificantes", disse
Lemann, segundo reportagem da revista Época, na edição de 8 de
abril de 2008.

                      'Estilo espartano'

    Antigos colegas o descrevem como um executivo frugal, que
evita aparições na imprensa e valoriza a simplicidade. "Ele
sempre teve um estilo muito espartano", disse Armínio Fraga, ex-
presidente do Banco Central, que aos 28 anos conseguiu seu
primeiro emprego no setor financeiro no Banco de Investimentos
Garantia SA, de Lemann. "Ele sempre sinalizou essa visão muito
simples, objetiva das coisas e da vida em geral."
    Lemann e seus sócios na 3G Capital, com sede em Nova York,
os bilionários brasileiros Marcel Herrmann Telles e Carlos
Alberto da Veiga Sicupira, assinaram em 2 de setembro um
contrato para adquirir o Burger King, com sede em Miami, pagando
US$ 24 por ação, 46 por cento acima do preço de fechamento de 31
de agosto. A ação fechou a US$ 23,80 em 17 de setembro na bolsa
de Nova York.
    A 3G está assumindo uma rede de lanchonetes castigada pela
queda de lucros e vendas que se desaceleraram por dois anos
seguidos durante a recessão americana. A oferta pelas ações do
Burger King começou no dia 16 de setembro e termina no dia 14 de
outubro.
    A operação enfatiza a estratégia de Lemann de investir em
empresas de varejo. Ele e seus sócios têm participações na belga
Anheuser-Busch InBev NV, a maior cervejaria do mundo, e na
brasileira Lojas Americanas SA, maior varejista de descontos do
Brasil, com 479 lojas. Também é acionista da América Latina
Logística SA, maior operadora de ferrovias do País.

                 'Extremamente disciplinado'

    Lemann tem "hábitos muito simples, é extremamente
disciplinado", qualidades provavelmente adquiridas nas quadras
de tênis, afirma Claudio Haddad, presidente do Insper, o antigo
Ibmec, instituto de ensino e pesquisa em São Paulo, e ex-
diretor-superintendente do Garantia.
    "Ele foi campeão brasileiro cinco vezes, campeão carioca
umas 20 vezes e campeão mundial de veteranos três vezes", disse
Haddad. "Ele não bebe, dorme cedo, acorda cedo, pratica esporte
todo dia." Haddad, 64, disse ter um investimento "pequeno" em um
fundo do 3G. Ele não quis revelar o montante.

                             Tênis

    "Pelo tanto que jogava, percebi que dificilmente estaria
entre os dez melhores do mundo", disse Lemann, segundo a
reportagem da Época. "Resolvi parar. Percebi que não seria um
astro."
    Lemann pode ser melhor descrito como um "calvinista", disse
Haddad numa entrevista por telefone de São Paulo. Seus
funcionários entenderam exatamente o que isso significava depois
que a cervejaria belga InBev NV, que era controlada em parte por
Lemann e seus sócios, comprou a Anheuser-Busch, com sede em St.
Louis, EUA, em 2008.
    Cerca de 1.400 pessoas perderam logo seus empregos. Foram
cortadas mordomias que iam de voos em classe executiva a
Blackberrys e caixas de cerveja de graça, segundo uma pessoa
próxima ao negócio que não está autorizada a falar em público.
Mesmo o brasileiro Carlos Brito, presidente da empresa, passou a
voar de classe econômica.
    "Eles não fazem a menor questão de aparecer", Fraga, 53,
fundador da Gávea Investimentos Ltda, fundo de hedge do Rio,
disse sobre Lemann e seus sócios. A Gávea tem uma participação
na Arcos Dorados, com sede em Buenos Aires, operadora das
franquias do McDonald's Corp. na América Latina, e também na
Lojas Americanas.

                           Pai suíço

    Lemann, classificado pela Forbes como o terceiro homem mais
rico da América Latina e o 48º do mundo, é filho de um
empresário suíço. Ele cresceu no Rio de Janeiro e foi para
Harvard, nos EUA, para estudar economia e negócios.
    Depois de se formar em economia, em 1961, voltou para o
Brasil para trabalhar com finanças. Dines pediu para Lemann
assumir uma coluna sobre o mercado de capitais para melhorar a
cobertura do setor no jornal, embora o rapaz nunca tivesse
trabalhado como jornalista antes. Logo depois, Dines mudou de
ideia, ao saber que Lemann estava trabalhando como corretor.
    Em 1971, Lemann, que também fez mestrado em administração
de empresas em Harvard, fundou o Banco de Investimentos Garantia
no Rio, e este logo passou a ser conhecido como o lugar onde os
profissionais talentosos disputavam empregos. O Garantia prestou
serviços para multinacionais como Philip Morris International
Inc. e Colgate-Palmolive Co., ambas com sede em Nova York,
ajudando-as a realizar aquisições e a se expandir no País.

                     Espírito empreendedor

    "Ele sempre liderou dando o exemplo, sempre delegando e
procurando dar espaço para as pessoas empreenderem e crescerem",
disse Fraga, presidente do conselho da BM&FBovespa SA, com sede
em São Paulo, operadora da maior bolsa da América Latina. "Era
uma cultura claramente meritocrática, capaz de atrair e reter
pessoas de grande talento, energia e disposição."
    O início da sua carreira quase terminou em fracasso. Em
1971, Lemann e seus sócios pagaram US$ 800.000 por uma vaga na
bolsa de valores do Rio de Janeiro, segundo um artigo da Forbes
de 1996. Algumas semanas depois, o mercado despencou 60 por
cento e eles quase perderam todo o capital, segundo a revista.
    O Garantia resistiu e, em 1988, foi adquirido pelo Credit
Suisse First Boston por quase US$ 1 bilhão, incluindo pagamentos
posteriores vinculados ao desempenho do banco, segundo Haddad.
Lemann então fundou a GP Investimentos com Sicupira e Telles.
    Uma das primeiras transações foi a compra da Lojas
Americanas. Quando venderam sua participação na GP, em 2004, os
sócios tinham aumentado os ativos para R$ 3,6 bilhões e gerado
retornos anuais médios sobre os investimentos de 23 por cento em
dólar.
    Lemann usou parte de sua riqueza para ajudar a melhorar a
educação no Brasil, onde o índice de analfabetismo estava em 9,7
por cento no ano passado, criando duas fundações para atuar em
frentes distintas.

                        'Mundo melhor'

    A Fundação Lemann, criada em 2001, dá cursos para diretores
de escolas públicas e secretários da educação municipais para
ajudá-los a lidar com os desafios de se trabalhar no sistema de
educação pública do País. O orçamento anual da fundação é de R$
10 milhões.
    "Claramente a visão de mundo dele é de que quem move o
mundo são as pessoas", Ilona Becskeházy, 45, diretora executiva
da Fundação Lemann, disse numa entrevista por telefone de São
Paulo. "O País depende da qualidade dessas pessoas, de
qualidades intrínsecas e qualidades que têm a ver com coisas
aprendidas através da educação."
    O website da Fundação Lemann abre com uma frase assinada
por seu fundador: "Ajudar pessoas a atingir seu potencial e
apoiá-las para que elas, por sua vez, possam ajudar outras no
futuro é um caminho para tornar o mundo melhor".

                       Viagem à praia

    Outra fundação de Lemann, a Fundação Estudar, foi criada em
1991 e oferece bolsas de estudos para brasileiros estudarem
economia, administração, política pública e direito, afirmou a
diretora-executiva Thais Junqueira Franco Xavier. "A ideia é
formar gente competente, capaz."
    Ao mesmo tempo em que gasta seu dinheiro para melhorar a
sociedade brasileira, Lemann é conhecido por seus valores de um
trabalhador simples. Haddad lembrou-se de uma história que se
costuma contar sobre Lemann, da década de 80 -- quando ele
estava viajando no seu Volkswagen Passat para um fim de semana
na praia e parou para abastecer. Enquanto enchia o tanque, o
posto foi assaltado e os bandidos ignoraram totalmente o
bilionário.
    "Como ele estava vestido com simplicidade e dirigindo um
Passat velho, acharam que ele era um João-ninguém", disse
Haddad. "Se soubessem que ele era o principal acionista do
Garantia, o principal acionista da Lojas Americanas,
provavelmente teriam tentado fazer alguma coisa com ele."

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--Editores: Alan Mirabella, Helder Marinho, José Sergio Osse

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